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Coelho branco na neve.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pergaminho do Mar Morto e a gota d'água

Hoje eu transbordei. Como um recipiente que se enche demais, como um copo cheio até a boca, uma única gota me fez transbordar. Perdi-me outra vez de mim para em seguida reencontrar-me; mais vazia, mais plena.

Quando a pressão no peito é muita, ela transborda e deságua pelos olhos. O leito dos rios salgados se move tentando sorrir, mas a tristeza é um terreno acidentado e pedregoso. Então os rios seguem seu curso face abaixo, deslizando sobre as bochechas rosadas, umedecendo os lábios e deixando na boca o gosto amargo da dor. Uma mão se move e tenta desviar o curso d'água, mas ele já cavou no rosto os sulcos angustiados que, uma vez mais, recebem quase afetuosos a torrente de lágrimas que brota da alma e vai formar suaves quedas d'água pelo pescoço longo, a gola da blusa já totalmente encharcada.

Hoje coloco mais um texto antigo, cujo significado eu só descobri agora. Ele foi escrito há quase quatro anos, na ocasião do exato oposto de hoje, e só agora eu entendi... Achei que fosse um acidente de boas-vindas. Era, no entanto, de adeus.


"Hoje fui atropelada por um caminhão.
(Não no sentido literal de "caminhão", pois não estaria aqui para relatar-lhes isso se realmente tivesse sido atropelada por um caminhão.)
Mas hoje, um caminhão bateu em mim.
E o caminhão me pegou desprevenida.
Tirou-me o ar.
Tirou-me a fala.
Tirou-me de mim.
Abriu-me o peito e virou-me do avesso.
De dentro para fora.
Súbita, porém lentamente.
Tragou-me para o profundo e jogou-me para o alto. Ao mesmo tempo.
Faz-me doer o corpo e a alma, mas não a mente.
A mente, sempre tão atenta, ativa, altiva.
Essa mente, essa mesma mente, se entorpeceu.
Parou.
Parou...
Morreu.
Um caminhão bateu em mim.
E isso doeu."


Goodbye, Space Cowboy.


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