"time, time, time... see what's become of me
while I looked around for my possibilities...
I was so hard to please... - but look around,
leaves are brown and the sky
is a hazy shade of winter."
Os dias me correm.
Eu, atônita, nem me movo. Sinto dolorosamente o tempo pingar de minhas veias abertas, gotejando lentamente os instantes ínfimos, piscares de olhos que assistem apáticos à vida que se esvai... Meus olhos. Minha vida.
A mente ébria e desgovernada se agita, se perturba. Indignada, grita. Grita alucinadamente. Dá início a uma revolta, um buzinaço mental, convocando ao movimento todo o corpo inerte. A alma é a primeira que responde. Junta sua dor à angústia da amiga, une-se a ela numa onda irrefreável de agonia inconformada. A onda se propaga. E vai. E vai. Lava os membros que se fazem dormentes, lava os ouvidos que se fazem surdos, lava o coração que se faz indiferente. E vai. E vai. Molha de leve cada fibra de um ser que se resignou ao desespero silencioso, à imutabilidade sofrida da inércia na qual se refugia voluntariamente. E vai. E vai...
Então, sob o olhar condoído da mente e da alma, quebra-se inadvertidamente de encontro à praia dos olhos, derramando-se em uma única gota que desliza, discreta, pela face. Quem haveria de dizer?, eram os mesmos olhos que assistiam, apáticos, ao gotejar da vida... Minha vida. Meus olhos.